NOTAS CINÉFILAS (só sobre o que me interessa e gosto muito e que não posso deixar passar sem uma referência...)
NAYAK (O HERÓI) (1966), de Satyajit Ray, visto no mini-ciclo sobre este autor, actualmente no Cinema Nimas, em Lisboa. Depois seguirá para o Carlos Alberto, no Porto.
Admirável obra deste grande realizador indiano (Cálcuta, Bengala, 2-Mai-1921 - 23-abr-1992).
A propósito valer a pena ler o belo ensaio escrito sobre ele no magnífico catálogo da Cinemateca Portuguesa, "Cinemas da Índia", aliás um dos melhores, em minha opinião, publicados pela instituição. Coordenado por José Manuel Costa e editado em 1998 com apoio do MC (Ministério da Cultura).
(MC? O que é isso? perguntarão aqueles que só agora, por uma questão de idade chegaram a estes domínios da Cultura. É que o Ministério da Cultura foi destruído assim que os actuais governantes, fascizantes e incultos, chegaram ao poder. Aliás um grande receio desse tipo de gente é a de que o povo se torne mais culto... basta ouvi-os e ve-los na comunicação social, arrogantes e convencidos, do alto da sua mediocridade)
Nessa obra da Cinemateca lê-se: "... (Satyajit Ray) um dos maiores realizadores da história do cinema, tanto indiano como mundial".
"O Herói" tem como protagonista principal um actor de cinema de grande sucesso popular. Através da sua história, em que os problemas da desumanização e do desenraizamento causados pela fama, efémera como sempre acontece nestes casos, o afastam dos outros e de si proprio, Ray fala-nos das preocupações que então sentíamos, e que infelizmente meio século depois permanecem, apesar de tudo o que se passou, desde os grandes avanços sociais do século XX até ao retrocesso e declínio da sociedade actual, coincidente com o início do século XXI.
Retrocesso e declínio em termos humanos e dos valores que para muitos de nós pareciam então ter sido definitivamente adquiridos pela sociedade e de que nada os poderia destruir. Mas felizmente a cada retrocesso um novo avanço se seguirá e é essa certeza que nos faz acreditar no futuro, porque nada poderá deter a roda da história...
O humanismo deste grande artista, autor do argumento, da música e da realização, com uma admirável direcção de actores, surge em toda a sua plenitude nesta obra, mas Ray reflecte também sobre o Actor e do seu papel no cinema e sobre o próprio Cinema
Gostaria ainda de pedir aos amig@s que não percam esta obra, admirável, repito, e que reparem com atenção na famosa cena do sonho de Arindam, o Actor, afogado num "mar" de notas de 1000 rupias. Em 1966 ou em 2014, sejam grandes artistas ou simples desportistas (que também têm a sua arte).
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