As salas de cinema que marcaram a minha infância, adolescência e juventude, cinéfilas, estão muito ligadas às obras que nelas vi e que decerto modo também contribuíram (julgo que bastante) para a formação do ser humano que sou.
Sem consultar os meus arquivos, que são reduzidos com excepção de os da minha paixão cineclubista, poderia recordar de memória o Stadium (do SAD), o Restelo, o Promotora, o Paris, o Europa, o Jardim-Cinema e os cinemas do centro da cidade de Lisboa, e quase todos os que mais frequentei já estão há muito desaparecidos - o Estúdio do Império, o 444, o Apolo 70, o Londres, o Roma (agora auditório), o Tivoli (agora teatro), o São Luís (agora teatro), o Éden, o Condes, o Império, Monumental e S.Jorge, mais tarde o Alvalade, ao cimo da Avenida de Roma (hoje é o City-Cine), o Universal (na Rua da Beneficência), o Lys, etc, etc (deve faltar muita coisa).
E o Imperial, de que junto imagem actual do que resta do edifício onde funcionou, tirada outro dia, quando numa das minhas deambulações citadinas lá passei.
No Imperial decorreram durante alguns anos (anos 60 e talvez 70) as sessões semanais do CCUL (Cine Clube Universitário), um dos vários cineclubes então existentes em Lisboa.
Os mais importantes eram o Imagem, o ABC, o CCUL, o Católico (e aqui julgo que chegou a haver dois - o dos católicos progressistas e o dos católicos fascistas. Nunca fui nem a um nem a outro...).
E no CCUL (mas também no ABC e IMAGEM), e no cinema IMPERIAL, vi algumas das obras mais importantes da 7ª Arte.
Só relembrando algumas: o cinema inglês, de Losey aos Angry Men; o neo-realismo italiano; alguns clássicos do cinema soviético (que conseguiam escapar à censura, embora retalhados); a nouvelle-vague francesa e alguns grandes clássicos, como Renoir; o cinema de esquerda feito nos EUA (Richard Brooks e outros); o cinema espanhol anti-fascista que ultrapassava a censura, o cinema novo português e os seus antecessores (Manuel Guimarães, Artur Ramos); o cinema europeu dos países socialistas (principalmente checo, húngaro, polaco).
Inesquecíveis, a exibição com grande sucesso de uma obra-prima "O Faraó", de Kawalerowicz e também o impacto na jovem assistência que enchia por completo, como quase sempre, a grande sala do Imperial, do longo travelling final de Os Quatrocentos Golpes, de François Truffaut.
Eram frequentes os aplausos no final da sessão da maioria dos jovens presentes. Julgo que seriam 3 ou 4 centenas.
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