Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PREFERÊNCIAS DE 2009 - "Abraços Desfeitos", de Almodóvar

“Almodóvar ou a beleza deslumbrante do cinema. (..) Pedro Almodóvar assina uma declaração de amor ao cinema, com uma emoção comovente.”
(Michel Guilloux, “L’Huma”, crónicas sobre o último Festival de Cinema de Cannes, e sobre “LOS ABRAZOS ROTOS”, de Pedro Almodóvar)
Comentário: perante a reacção negativa de alguma critica dos jornais portugueses dominantes, sabe bem ler estes elogios, que se multiplicaram pela imprensa para nós efectivamente de referência (e da especialidade), a uma obra de que gostámos muito.
É que esta obra deste grande cineasta espanhol, é quase impossível que não seja admirada por quem goste muito de cinema, para além de todos os outros aspectos ligados ao melodrama, que toca também outro tipo, bem mais numeroso, de espectadores.

“ABRAZOS ROTOS (LOS)” (Abraços Desfeitos), Pedro Almodóvar, (ESP), **** (4)

Um dos mais belos filmes, em minha opinião, do mestre espanhol, simultaneamente melodrama e filme negro, que alguma crítica, não consigo perceber porquê, resolveu desvalorizar.
Com meia dúzia de cenas geniais, entre quais a magistral cena da aparição de Penélope Cruz (Madalena), à porta da sala onde o amante desprezado, José Luís Gómez (Ernesto Martel) vê os filmes que mandou fazer ao filho, para vigiar Lena, imagens sem som, mas que alguém, a quem encarregou de ler nos lábios traduz, e em que Madalena surge, para ela própria lhe dar voz. Aliás Pedro Almodóvar, mostra aos espectadores, através da actividade do seu personagem Mateo, o que está por trás das câmaras, e esse é outro dos aspectos muitíssimo interessantes desta obra.
Na beleza selvagem e estranha de Lanzarote, onde se refugia o par fugitivo e apaixonado, Lena (Penélope Cruz) e Mateo Blanco/Harry Caine (Lluis Homar), Almodóvar vai buscar uma cena doutra obra-prima inesquecível, “Viagem em Itália”, de Roberto Rossellini, com Ingrid Bergman e George Sanders, para ilustrar os sentimentos das suas personagens. Admirável utilização das imagens de outrem, que se admira, na própria obra.
Um melodrama complexo, história atribulada de um realizador que cega, Mateo, e todos os dramas que giram à sua volta, com as mulheres que o amam (Blanca Portillo, em Judit, outra grande actriz), o produtor enganado, os filhos.
O desfecho não podia ser mais original, com o cineasta, ajudado pela sua assistente e pelo filho, a remontar o seu último filme, comédia réplica do carismático “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, que o produtor havia “assassinado” por ciúme.
O amor eterno, jurado entre Mateo e Lena, perante a imagem na obra de Rossellini, dos despojos calcinados de dois amantes abraçados, que os arqueólogos descobrem, só poderá afinal subsistir através do cinema, no filme de Mateo. Realidade e cinema, entrelaçados, como na vida real.
Como sempre, Pedro Almodóvar, cita outros nomes do Cinema que admira, de Jeanne Moreau (“Fim de Semana no Ascensor”, de Louis Malle) - a diva francesa de tantas obras-primas, de Truffaut a Losey, e a Antonioni, a Michael Powell (“Peeping Tom”), citado a propósito do filme que o filho do produtor, faz clandestinamente para espiar os dois amantes). Ou os DVDs da estante de Mateo.
Quanto aos actores, são de facto magníficos, magistralmente dirigidos como sempre pelo realizador, com destaque óbvio para os dois principais, Lluis Homar e Penélope Cruz.
A não perder!
**** (4)

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