Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

PREFERÊNCIAS DE 2009 - "Inimigos Públicos", De Michael Mann

“PUBLIC ENEMIES” (Inimigos Públicos), de Michael Mann, (EUA), ***** (5)

Um brilhante trabalho deste cineasta norte-americano, um dos mais notáveis da sua geração, de uma elegância formal invulgar, que constitui aliás a principal marca do seu estilo.
Interpretações também notáveis, em especial (e mais uma vez) a de Johnny Deep, no papel de John Dillinger (1902-34), um gangster que se torna um ídolo popular nos anos que se seguiram à grande crise económica no mundo capitalista, em 1929, uma vez mais tendo como causa última os excessos do mundo financeiro e que arrastou para a miséria milhões de pessoas, em especial nos EUA.
Em 1929 como agora!
Não é por acaso que surge neste momento uma obra como esta de Michael Mann, em que as comparações com actualidade são mais que evidentes. O argumento mostra também como o tempo dos gangsters, puros e duros, estava a terminar e se iniciava a mudança no mundo do crime, para os crimes de colarinho de branco.
Mann não tem contemplações na denúncia de simpatizantes (só?) nazis, como o futuro “patrão” do FBI, J. Edgar Hoover (excelente interpretação de Billy Crudup), pondo na sua boca o elogio dos métodos das polícias fascistas europeias, para quem os direitos humanos deixavam de existir (cita Mussolini) e também aí as conotações com a actualidade, em especial com a “Era Bush”, são evidentes.
Esta notabilíssima obra, de evidente estética cinematográfica, só nos parece visível em toda a sua grandeza no ecrã de grandes dimensões de uma sala de cinema, para o grande público.
Mas fez-nos pensar também no longínquo ano de 1968, em que vimos, no então saudoso cinema Éden, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, (agora já transformado infelizmente num qualquer armazém), em plena época do estertor norte-americano no Vietname (à semelhança do colapso que se adivinha no Afeganistão e no Iraque) e de grande contestação interna contra guerra nos EUA, a célebre e inesquecível obra-prima “Bonnie and Clyde”, de Arthur Penn (1967), que deu origem, apesar da feroz censura fascista aos jornais portugueses, a uma enorme polémica, entre intelectuais de direita e esquerda, contra e a favor da obra de Penn, que atravessou jornais como o Diário de Lisboa, o Diário Popular, a República, talvez “A Capital”, tanto quanto me lembro.
Tal como no filme de Mann, os seus heróis – interpretados por Warren Beatty e Faye Dunaway, são dois jovens marginais que durante a época da crise de 1929, desafiam as autoridades roubando bancos, e à sua maneira, representam a ira popular de milhões de desempregados contra os banqueiros e o grande capital.
Em “Public Enemies”, as personagens, interpretadas pela belíssima actriz francesa Marion Cotillard (Billie Frechette, a companheira de Dillinger) e Johnny Deep, conseguem também recolher toda a simpatia dos espectadores, contra os fascizantes guardiães da ordem, comandados por Hoover, ainda que Mann mostre também algumas contradições no comportamento da polícia, com alguns resquícios éticos - detective Melvin Purvis (magnífico Christian Bale), que aliás acabará muito mais tarde por se suicidar (1960).
O filme fecha com o episódio, que suponho real, da morte de Dillinger, baleado à saída do cinema “Biograph Theater”, de Chicago, cidade onde realizador e seu personagem viveram a sua juventude, em que se exibia o filme de gangsters, “Manhattan Melodrama”, de W.S.Van Dike (1934).
A polícia monta-lhe uma emboscada à saída da sessão, consequência de uma traição, encomendada à Máfia (as ligações tenebrosas entre o poder e o mundo do crime), então interessada noutro tipo de “negócio”.
As últimas palavras de Dillinger no filme, já crivado de balas, disparadas pelas costas pela polícia, são para a companheira, Billie, entretanto presa, lembrando a canção “Bye, Bye Blackbird”, que os ligava desde que se conheceram. Clímax romântico da obra.
Aos cinéfilos: por favor não percam. É do melhor cinema que vimos este ano. Esqueçam as críticas, movidas pela ideologia, dos escribas da imprensa dominante, que tentam (espero que em vão) desvalorizar o filme.
***** (5)

Atenção às próximas estreias de dois filmes portugueses, de Manuel Mozos (“4 Copas”) e Joaquim Leitão, um novo e um consagrado, quase sempre muito interessantes.

Atenção a “De Profundis”, um filme de animação realizado pelo famoso desenhador galego, Miguelanxo Prado, obra de que me dizem maravilhas (ler crítica de Maria João Martins, no último JL, nº 1014), e que espero não vir a perder, com mais este interregno forçado…

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