Cultura!

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OBJECTIVOS

Estes textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... Nos últimos tempos são maioritariamente meros comentários que fiz, publicados principalmente no facebook ou no correio electrónico, sempre a pensar em primeiro lugar nos amigos que eventualmente os leiam.
Gostaria muito de re-escrever os textos, aprofundando as opiniões, mas o tempo vai-me faltando...
As minhas estrelas (de 1 a 5), quando as houver, apenas representam o meu gosto em relação à obra em causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto com competência, além da subjectividade inerente. Gostaria de ver tudo o que vale a pena, mas também não tenho tempo...

segunda-feira, 18 de maio de 2015

ÍNDIA, de Roberto Rossellini




ÍNDIA (1959), de Roberto Rossellini (Roma, 1906-1977)


Quando penso na Índia e na Sétima Arte, no grande país, de enormes contrastes, de diferenças sociais abissais. de grandes avanços tecnológicos, ao mesmo tempo que enormes massas de seres humanos simplesmente tentam sobreviver nos subúrbios das grandes urbes, país com estados administrativos, como Kerala, social e culturalmente progressistas, em oposição a outros, a maioria, em que a exploração dos trabalhadores atinge níveis inconcebíveis mesmo para os padrões do capitalismo, lembro-me acima de tudo de um mestre como Satyajit Ray, e do grande escritor que ele várias vezes adaptou, Rabindranath Tagore e que foi Nobel da Literatura, e da obra-prima de Ray que é a "Trilogia de Apu", mas lembro-me também de Mehboob Khan e o seu admirável "Mother India", e lembro-me até de um cineasta europeu, um mestre também, Jean Renoir que tendo Satyajit Ray então em início de carreira como assistente, realizou outra obra-prima igualmente inesquecível, "The River" (O Rio Sagrado).







Quanto ao documentário "ÍNDIA", belíssimo, de Roberto Rossellini, que eu não conhecia, é como reconhecido pela maioria, suponho, um poema em imagens, uma obra intemporal, em que o cineasta italiano procurou captar a essência duma civilização milenar, em que as relações entre seres humanos e natureza permanecem como fundamentais, com uma grande ligação com a terra e com os seres vivos que nela habitam, ainda que periodicamente a natureza (as monções) seja sujeita a catástrofes, às vezes de uma violência brutal, causando milhares de vítimas. 

Feito com a delicadeza habitual deste grande mestre no retrato das relações humanas ou mesmo, como noutras obras, quando aborda as situações mais complexas que o ser humano atravessa. 




Praticamente cada um dos episódios desta obra, que não é um documentário puro já que há cenas elaboradas por Rossellini, tem um animal como símbolo - o elefante, o tigre, o macaco ou então o próprio Homem, como trabalhador incansável, na construção da gigantesca barragem, em que é a água que é preciso controlar, armazenar e ordenar para servir as populações, num dos episódios mais marcantes da obra, em que o Homem aparece claramente como construtor do seu destino.

Faltou ao humanista referir o aspecto político e a possível comparação, então, depois da derrota dos colonialistas (o Império Britânico), ou agora, mais de meio século passado, entre os que correram com o ocupante mas fazendo uma revolução progressista que transformasse as relações económicas e sociais, para benefício do seu povo, constituído por milhões de habitantes. Foi o caso da China (em 1948) mas não o da Índia (em 1949). E a situação mantém-se, com a miséria praticamente erradicada na China e angustiosamente presente na Índia.

Não esquecer que o império colonial derrotado, fomentando questões regionais e religiosas, tentou dividir os países nascentes - separando a Formosa da China, e o Paquistão da Índia. Foram os últimos crimes dos colonialistas antes de serem corridos daqueles dois grandes países, os mais populosos do Mundo e de enorme potencialidade, principalmente humana, cuja importância no devir da Humanidade ainda está em início.


NOTA: Rossellini esteve em Lisboa, já no final do regime fascista, em 17-Nov-1973, no grande auditório da Gulbenkian, a apresentar a que é considerada a sua grande obra-prima, "Roma Città Aperta" (ROMA, CIDADE ABERTA). Tenho guardados dois documentos sobre esse acontecimento ímpar: a visão de João Bénard da Costa, que o organizou e a visão de um crítico ultra-reaccionário, que depois singrou nos jornais do grande capital. Vale a pena lê-los! Tenciono publicá-los quando for rever essa obra-prima.

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