SE EU FOSSE LADRÃO... ROUBAVA (2013), de PAULO ROCHA
É a derradeira e póstuma obra deste grande cineasta (Porto, 22-Dez-1935 - Vila Nova de Gaia, 29-Dez-2012).
O celebrado autor de algumas das grandes obras do Cinema Português, a começar por VERDES ANOS (1963) e MUDAR DE VIDA (1966), realiza neste filme uma obra de memórias, que é em certos aspectos um testamento fílmico, em que utiliza cenas e planos de alguns dos seus filmes.
O resultado é uma obra nostálgica, bela e às vezes comovente. Provavelmente será ainda mais apreciada pelos que conhecem a sua obra anterior.
E quando termina a sua projecção fica-se agarrado à cadeira a pensar: será possível que já tenham acabado? O filme, a obra, alguns sonhos, parte considerável da nossa própria vida, por que nos lembramos do que representou para nós a estreia em pleno fascismo de essas suas primeiras duas obras, que eram pedradas no charco, que era a vida cultural nesses tempos de opressão e censura. Mas víamos acima de tudo nessas obras, como nas de outros realizadores que constituíam o chamado Cinema Novo Português, o prenúncio de que a mudança não tardaria em acontecer, fruto de décadas de Resistência e Luta, e que o fascismo seria varrido do nosso País. Especialmente agora, que a política da direita no poder volta a pôr em perigo a nossa vida colectiva e não podemos baixar os braços sob pena de um regresso trágico ao passado, que aliás já se faz sentir em muitos aspectos da vida quotidiana do povo português.
Como todas as obras de memórias, SE EU FOSSE LADRÃO... ROUBAVA, tem muito de pessoal, de aspectos que talvez escapem ao espectador comum. Mas a enorme beleza de muitos planos torna-a uma obra que julgo ninguém deixará de apreciar pela fruição das imagens e dos sons. Como aliás Paulo Rocha conseguiu de outras vezes, até em obras tão ignoradas, e desprezadas, como uma das suas obras-primas, sobre Venceslau de Moraes, o escritor orientalista que viveu no Japão, e que é o belíssimo A ILHA DOS AMORES.
Por isso, se puderem, não deixem de ver, na mesma sala - o CINEMA IDEAL, as 3 obras citadas. Faltará uma vez mais A ILHA DOS AMORES...
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