É minimalista nos processos, mas extraordinariamente tocante e comovente, este documento de 90 minutos. Sobre 16 fotografias de presos políticos, encontradas nos arquivos da PIDE, regista as vozes dos fotografados, que narram, à distância de várias décadas, em poucas palavras, episódios do que se passou com eles, nesse período tenebroso (1926-1974) da história do nosso país.
Vários homens e mulheres do Povo, entre os que sobreviveram à repressão, relembram-nos o que foi a heróica Luta para devolver a Liberdade ao país, após 48 anos de Fascismo.
Impressiona-nos muito a altivez e a coragem dos olhares de desafio, naquelas fotografias destas mulheres e homens, sujeitos à mais cruel das prisões, em que os carcereiros utilizavam os mais requintados e brutais métodos de tortura, para os tentar obrigar a denunciar amigos e camaradas de luta.
Imprescindível ver, principalmente para os que, felizmente, não passaram por esses sombrios tempos, dos mais ignominiosos da história portuguesa de quase uma dezena de séculos.
Embora só no genérico final sejam indicados os nomes dos participantes, há vozes para nós inesquecíveis, que nos habituámos a ouvir, apesar das televisões raramente nos falarem deles (e cada vez menos…), que nos tocam profundamente pela esperança de futuro melhor em que continuam a acreditar, mesmo nos tempos cada vez mais cinzentos que atravessamos.
Não sei se a obra vai merecer a atenção do júri, mas foi um dos trabalhos documentais que mais em agradou nos últimos tempos, pela sua excepcional concepção e montagem!
***** (5)
Quase coincidiu a visão desta extraordinária obra de Susana de Sousa Dias, autora aliás de um outro documentário magnífico, “Natureza Morta”, de 2005, com a transmissão na RTP Memória do último programa ZIP-ZIP (de 1969), em que pudemos ver e ouvir, entre outros, artistas inesquecíveis, alguns felizmente ainda vivos, como José Barata Moura, Carlos Paredes, Manuel Freire e José Carlos Ary dos Santos (na assistência!), além, claro, do homenageado, e recentemente desaparecido, Raul Solnado. É a memória, do melhor que temos, que é importante preservar para os vindouros.
Porque, infelizmente, também está relacionado com esse período (e com outros tão tenebrosos como ele, como o da Inquisição), não consigo deixar de me referir à polémica suscitada pela Igreja Católica, ao condenar (felizmente não às masmorras do Santo Ofício ou da Prisão de Caxias ou do Tarrafal, porque já não existem…) o nosso Nobel, José Saramago, por ter “ousado” (segundo eles) criticar a Bíblia! Aguardo ansiosamente o momento para ler “Caim”, já encomendado.
Mas cada vez gosto menos da maioria das Igrejas (sejam elas católicas, judaicas, maometanas, etc!), e no entanto tenho amigos sacerdotes, de quem gosto muito como pessoas, e nada me move contra os que acreditam em deuses, desde que, por isso, não queiram manipular e explorar os outros, ou muito simplesmente, servirem-se da religião para ajudar a perpetuar a exploração do homem pelo homem.
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