“UMA LONGA JORNADA PARA A NOITE”, de Eugene O’Neill, encenação de Rogério de Carvalho, para a CTA, **** (4)
Um dos grandes textos fundamentais do teatro universal, magnificamente encenado e, principalmente desempenhado, pela CTA, com especial destaque para a excepcional representação de Teresa Gafeira, na Mãe, Mary, mas muito bem acompanhada nos principais papeis, pelo marido James Tirone (Marques de Arede) e os filhos Jammie (Luís Ramos) e Edmund (Elmano Sancho). Laura Barbeiro tem uma curta intervenção excelente.
Eugene O’Neill (Nova Iorque, 1888 – 1953), prémio Nobel da literatura 1936, só autorizou a representação desta obra (de 1941) após a sua morte, dado o seu carácter bastante autobiográfico, da sua família, especialmente os pais. Foi estreada em 1956 e subiu à cena em Portugal em 1958, no Teatro Experimental do Porto, encenada por António Pedro. Mais tarde viria a ser representada salvo erro mais duas vezes no nosso país (ver exposição no TMA).
Trata-se de uma tragédia realista, de longa duração – a acção passa-se ao longo de um único dia, mas com ressonâncias universais, sobre as esperanças, muitas vezes falhadas, de realização pessoal e as consequentes frustrações inerentes à maioria dos seres humanos inteligentes, também sobre as dificuldades do relacionamento, mesmo no seio de uma família aparentemente unida, embora cheia de problemas, a cuja irreversível “queda nos abismos da noite” assistimos, apesar de todos os seus esforços para resistir.
Os excessos de bebida e de droga (esta ainda que involuntária neste caso, resultante de um tratamento médico), em que tantos se refugiam, na tentativa de fugiram por momentos aos problemas que os afligem, tendem, quando os limites são ultrapassados, a provocar o extravasar de sentimentos, iras, frustrações, perdido que foi o domínio sobre nós próprios. E então “dizem-se verdades”, que a maior parte das vezes não passam de recalcamentos e invejas. O que acontece aos Tirone aconteceria maior parte de nós, se as situações fossem semelhantes. A natureza humana é feita também destas contradições, embora o essencial, aquilo que confere grandeza aos seres humanos, tem muito a ver com o seu comportamento social e a maneira como se olha, entende e participa na sociedade de que fazemos parte.
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