“Uma obra pura e despojada ao extremo, onde o rigor jansenista é contrabalançado por uma trivialidade ligada ao humor puro e simples. O picaresco na sua acepção mais poética” (Vincent Ostria, L’Huma)
“O olhar maravilhoso de Serra anda sempre junto de uma entrega total aos prazeres sensoriais do mundo” (Filipe Furtado, Revista Paisá)
Subscrevo inteiramente as opiniões dos críticos citados. Acrescento que, quando vemos finalmente a criança, Jesus, nos braços da mãe, a imagem tem fundamentalmente muito de sensorial, de humano.
Quanto ao filme é uma pequena maravilha visual (e auditiva, principalmente com os sons da natureza) a que o realizador catalão (Banyoles, Girona, Catalunha, 1975) já nos habituara com o seu anterior “Honra de Cavalaria”, sobre Dom Quixote, com muito também de telúrico, no melhor sentido.
É uma obra que pouco tem a ver com o que se exibe em geral nas nossas salas. Daí a estranheza (e o desagrado) de alguns, habituados a um cinema frenético, em geral de baixa qualidade. A verdade é que os 98’ passaram e não dei por isso, tal o fascínio que as imagens provocam no espectador, pela sua extraordinária beleza.
Mas não está ausente um certo humor, como Vincent Ostria muito bem referiu – e cite-se a propósito a conversa dos três reis magos, cuja viagem a Nazaré, de ida e regresso, acompanhamos durante o filme, num diálogo sobre anjos e sonhos.
Quanto ao “Canto dos Pássaros” tem a ver com Jordi Saval, famoso compositor catalão, no único momento em que a música invade o ecrã.
Não perder para quem goste de Cinema. E aos “viciados” na linguagem televisiva e nas suas sequelas simplistas transpostas para o grande ecrã, aproveitem esta oportunidade para ver outro tipo de cinema, de mais qualidade. Pode ser que comecem a gostar…
***** (5)
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