Um magnífico documentário, com a marca de autor, sobre a cantora, bailarina e actriz de cinema e teatro, a francesa Jeanne Balibar (Paris, 1968). Que tem também uma importante actividade cívica, participando em associações de defesa dos imigrantes clandestinos e dos “sem-papéis”.
Para os que o ignoram, foi casada até 2004 com outro grande actor francês, Mathieu Amalric (que vimos recentemente no último filme, aliás muito bom, “Um Conto de Natal”, de Arnaud Desplechin), de quem tem dois filhos.
No teatro foi actriz da “Comédie Française”, nomeadamente, em “As Criadas”, de Jean Genet, no “Tio Vânia”, de Anton Tchekov, no “Dom Juan”, de Molière, em “Macbeth”, de William Shakespeare.
E é este enorme talento - da cena, do ecrã e do palco franceses, que Pedro Costa filma, mas debruçando-se apenas sobre a cantora, e a sua voz invulgar e sensual. Aliás a obra de Pedro Costa, reflecte magnificamente esta faceta maior de Jeanne Balibar, acompanhando-a nos seus ensaios e depois espectáculos, com os seus companheiros mais próximos – em especial Rodolphe Berger.
Entretanto, para os que só a conhecem da sua já longa participação no cinema, é inesquecível a sua interpretação num belo filme do famoso Jacques Rivette, “Va Savoir” (2001), que foi exibido entre nós, e vimos.
E, só por curiosidade, refira-se que a artista até chegou a participar na série policial “Julie Lescaut”, embora menor mas de enorme sucesso junto do grande público (também em Portugal, para quem seguia em tempos a TV5, como eu, mas antes da triste era Chirac/Sarkozy e dos seus desmandos sociais e culturais).
“Ne Change Rien”, está ao nível, em minha opinião, do melhor que Pedro Costa tem feito de muito bom no cinema português.
O estilo “contemplativo e repetitivo” do cineasta, nunca desmentido, e que, diga-se de passagem, alguns detestam, consegue aqui quase levar os espectadores (os que aderem ao estilo do cineasta) a um “estado de hipnose colectiva”, para o qual a sensualidade da actriz e da sua voz muito contribuem, apenas entrecortado por uma passagem, aliás inebriante, de “La Périchole”, de Jacques Offenbach, opereta em que a actriz também participou no principal papel em 2006.
Quanto à fotografia de Pedro Costa, ele próprio, em preto e branco apenas, é simplesmente magistral. E aqui haverá certamente consenso (há quem refira a propósito Sternberg).
O filme é dedicado (no final do genérico que encerra a obra) ao operador de som Philippe Morel, amigo da actriz e do cineasta, que com eles colaborou no filme, mas faleceu antes da sua conclusão, conforme citado pelo “Público” (30out09), em artigo (com entrevista à cantora nele diluída), mas esqueçam por favor a crítica nele contida que, como habitualmente, é desinteressante, para não lhe chamar pior...
Fica-nos entretanto a pena de não vermos a fórmula deste filme aplicada a alguns artistas portugueses do ramo, não muitos é certo, que pelo seu carisma, interesse intelectual e inteligência, dariam também obras maiores, estou convencido. Ocorrem-me imediatamente pelo menos dois nomes!
A não perder!
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