“FORCE OF EVIL” (1948), de Abraham Polonsky (1910-1999) (argumento em co-autoria com Ira Wolfert, e realização), (EUA), ***** (5)
Uma das obras-primas do cinema negro norte-americano, violento apólogo contra a corrupção, o gangsterismo e o regime capitalista, obviamente não exibida em Portugal durante o regime fascista, e portanto nunca exibida comercialmente no nosso país.
O autor, Abraham Polonsky, nascido em Nova-Iorque em 1910 e o actor principal, John Garfield (Nova Iorque, 1913 – 1952), foram perseguidos pelos políticos fascizantes norte-americanos do pos-guerra, na época do mccarthismo, e da tristemente célebre “caça às bruxas”, isto é, da perseguição aos elementos mais progressistas da intelectualidade norte-americana, sendo os nomes mais sonantes, entre os responsáveis da infame campanha de perseguição, o do senador McCarthy e o do seu adjunto Richard Nixon.
A partir de 1951, Polonsky, que tinha sido efectivamente um activista de esquerda, anti-nazi, membro do Partido Comunista, colaborando com a Resistência Francesa durante a Grande Guerra de 1939-45, foi proibido de trabalhar nos estúdios norte-americanos, só o podendo voltar a fazer vinte anos depois (!), em 1968, aliás com outro grande filme “Tell Them Willie Boy is Here”, uma obra profundamente anti-racista.
Quanto ao grande actor John Garfield, um rebelde dos estúdios, viria a falecer de ataque cardíaco, vítima da tenaz perseguição de que foi alvo.
Abraham Polonsky nunca abdicou das suas ideias, tendo-se recusado sempre a denunciar quem quer que fosse perante o comité dirigido por McCarthy e Nixon, tal como, muitos anos mais tarde, não quis revelar sob que nomes, ou em nome de quem, tinha colaborado na indústria do cinema norte-americano, nos anos em que foi proibido de o fazer. Uma grandeza e uma coerência de que nem todos, infelizmente, se podem orgulhar.
A obra tem cenas admiráveis, magnificamente fotografada a preto e branco (George Barnes), culminando no extraordinário final, extremamente forte, quando o jovem advogado, John Garfield (Joe Morse) ambicioso e com poucos escrúpulos, que não se importa de servir os gangsters para enriquecer rapidamente, desce até ao rio, sob a grande ponte, onde os gangsters abandonaram o cadáver do irmão (Leo Morse), que o havia ajudado quando jovem e que Joe tentara envolver a contra-vontade de Leo, nos negócios escuros do jogo. E onde, finalmente, compreende o erro do caminho tomado, apoiado pela jovem secretária do irmão, Beatrice Pearsons (Doris Lowry), que se sente atraída por ele, e o quer afastar do caminho do crime e da corrupção.
“(..) principalmente, uma parábola sobre o capitalismo e a forma como o sistema “trabalha” o dinheiro, como o “justifica” e o manipula. Referência, portanto, directa e actual, num tempo em que o deus “Euro” é tão reverenciado como o dólar o é, e era, na representação deste filme.” (Manuel Cintra Ferreira, na folha da Cinemateca, relativa a este filme, 23set09)
***** (5)
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