Outra obra muito interessante de Raquel Freire (Porto, 1973).
Segundo a autora – cineasta e artista, em entrevista ao JN (João Antunes) a obra esteve no limbo sete anos após o seu primeiro filme, “Rasganço”, por o projecto ter sido recusado pelo ICAM por amoral!
É que amoral, pelos vistos, mete mais medo que imoral, segundo os que controlam, sempre de acordo com a “moral vigente”, os financiamentos estatais às artes…
Demasiado pessoal, marcadamente no feminino, a obra perde por isso na adesão dos espectadores, no entanto a maioria dos planos (e algumas sequências) são magníficos e alguns permanecem na nossa memória cinéfila, tal como principais intérpretes pelo modo como a realizadora os viu e filmou (em especial as três principais personagens femininas, Margarida Carvalho (Rubia), Sofia Marques (Rosa), Sandra Rosado (Rita, A Imperatriz), entre outros.
O Porto e alguma da sua marginalidade nocturna, o rio, e os que nas suas margens vivem com as suas angústias, eis o pano de fundo das relações e amores, quase sempre limite, que se estabelecem.
Obra que nada tem a ver, de facto, com “a fábrica de produzir imagens” para contar histórias, mais ou menos bem.
Visão pessoal e artística dos extremos, exige inteligência e sensibilidade para ser entendida. Daí, talvez, a rejeição brutal (“de fugir”, dizem) de parte de alguma crítica, em geral a mais conservadora, acostumada aos “produtos de fábrica”, ou, provavelmente, pelos mesmos motivos dos responsáveis do ICAM…
Embora algo falhada, pelos motivos expostos, a obra obriga a focar o nosso interesse sobre a autora e seus futuros trabalhos (anunciados mais dois filmes). Espero que consiga apoios financeiros para continuar…
Há aspectos na obra (poucos, e que, curiosamente, a mentalidade conservadora costuma defender) com que não concordo, mas nem os vou citar, porque embora importantes, não são essenciais sob o aspecto cinematográfico.
*** (3)
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