Embora já tivesse visto esta magnífica obra no decurso do DOCLISBOA de 2008, uma nova visão veio confirmar-me que se trata de um dos grandes documentários feitos em português.
É que Rui Simões, com sete personagens reais, que ouve falarem sobre as suas vidas conturbadas, de quem caiu (ou foi empurrado) para uma marginalidade de onde é muito difícil sair, conseguiu fazer uma obra tão ou mais interessante que muitas rebuscadas ficções. E em que o humor também não está ausente.
É um retrato muito humano destes seres em extremas dificuldades, que no entanto nunca perdem a sua dignidade. A verdade é que os rostos destas mulheres e homens ficam na memória do espectador por muito tempo, pelas melhores razões.
É uma visão sem preconceitos sobre o mundo dos Sem-Abrigo na capital do país, e de alguns que os auxiliam através de associações constituídas para o efeito, em geral de cariz humanitário ou religioso.
Rui Simões acompanha e ouve, ao longo de quase duas horas, que passam num ápice, sete pessoas que caíram nessa dramática situação. E alguns dos que as ajudam nesta situação também nos deixem entrever parte da sua grande solidariedade.
Um filme humanista e importante, comovente por vezes, mas que não deixou de causar engulhos (conforme ouvimos no debate após a projecção no DOCLISBOA de 2008) a alguns espectadores mais conservadores, incomodados com o que viram, isto é, com pessoas como eles, provavelmente melhores em muitos aspectos, mas a viverem na rua.
Curiosamente, ou talvez não, estabeleceu-se agora uma cortina de silêncio da crítica dominante em torno do filme. O “Público” nem sequer o inclui na sua tabela de obras em análise. Porquê, tratando-se de uma das poucas obras realmente interessantes em exibição neste momento nas nossas salas? E o www.imdb.com, sempre tão presto em registar o inenarrável lixo cinematográfico que se exibe por esse mundo fora, também o não refere ainda. Porquê?
O realizador (Lisboa, 1944) deste filme, Rui Simões, é autor de duas importantes obras do post-25 de Abril, “Bom Povo Português”, de 1976, e “Deus, Pátria e Autoridade”, de 1981.
Por favor, não percam. E depois digam-me se tenho ou não razão.
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